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Até sempre, Jorge Saraiva!

Imagem indisponível.
ATÉ SEMPRE. JORGE!
O ABC Cine-Clube de Lisboa teve a felicidade (e grande privilégio) de contar com o activismo cinéfilo do Jorge Saraiva, professor de Filosofia no Camões e divulgador de cinema junto da comunidade escolar.
Como professor e divulgador, o Jorge tinha uma sede insaciável pelo cinema.
No ABC, onde entrou como dirigente em 2018, o Jorge deu um contributo exemplar à actividade de programação cineclubísta, evidenciando desde logo uma especial apetência para a recuperação dos grandes mestres da História do Cinema, a divulgação de cinematografias menos conhecidas; o empenho em reatar com cineastas “esquecidos” ou “mal-amados”; promover as novas tendências do cinema português, dar a (re)ver alguns dos títulos marcantes da produção portuguesa do “novo cinema” dos anos 60/70; convidar realizadores, apresentar os filmes, orientar os debates, tudo isto a par da produção de textos de apoio às sessões, trabalho (hercúleo) semanal que partilhou à vez com a cumplicidade cinéfila do colega José Esteves, professor e também dirigente do ABC.
Conhecemos o Jorge quando se constituiu, em 2011, a parceria entre o ABC Cine-Clube e a Escola Secundária de Camões para a divulgação cultural cinematográfica, e desde a primeira hora contámos com o incentivo, o empenho e notável dinamismo do Jorge.
O ABC Cine-Clube de Lisboa ficou mais pobre com a partida do Jorge. Por resolver está, entre outras, a velha questão do novo papel do cineclube ABC na captação e sensibilização de novos públicos, na formação e desenvolvimento do pensamento crítico que era (é), desde sempre, uma das nossas preocupações mais prementes nos tempos que passam, porque está intimamente ligada às grandes transformações operadas no cinema nos últimos vinte, trinta anos, designadamente no surgimento em força de novos modos de difusão.
Inteligente, culto, irreverente, o Jorge era um conversador substancial e particularmente cativante, com grande facilidade de relacionamento humano, que gerava entusiasmo e enriquecia o debate nas reuniões.
Recordo com saudade a sua última conversa à mesa do restaurante sobre a revisão que estava a fazer do 'fabuloso' “Heimat”, de Edgar Reitz, do desejo de programar o “Palombella Rossa”, do Moretti, mais o “Providence”, do Resnais, e da descoberta gratificante dos filmes de Percy Adlon que por essa altura se começavam a projectar no grande ecrã do Auditório da escola.
O Jorge Saraiva era assim: gostava imenso de falar e reflectir sobre os filmes que amava, sobre os cineastas que admirava, sobre os clássicos e o cinema de ruptura, que faziam parte, como ele dizia, dos “filmes da minha vida”.
Celebremos, pois, o mundo do Jorge!
Joaquim Diabinho
ABC Cine-Clube de Lisboa

A ESCOLA SEM O SARAIVA!
O Jorge partiu. Inesperadamente, sem sentido, como a morte sabe ser. Um homem do tempo e do espaço, não fossem estas duas categorias filosóficas. O Jorge que gostava de se fazer ouvir onde quer que estivesse, quer no tempo, quer no espaço. Com as suas ideias claras, a sua oratória irrepreensível, a sua retórica contestatária, a sua argumentação imbatível. O Jorge que abraçou causas, que defendeu sonhos de juventude, que teve sempre um olhar crítico para um mundo voraz, agressivo e implacável; um homem que acertou as contas no seu encontro com a História, nos ideais que defendeu, nos alunos que formou, nos projetos em que acreditou, e que também nos mostrou que todos os dias podemos partir sem estar à espera de nada. Foi assim que aconteceu.
Encontrei o Jorge em Alverca em 84/85, entrámos os dois no Camões em 93/94, e juntos fizemos também um percurso. Relembro o Jorge que entrava em cada dia na direcção, com as suas ideias contestatárias, os seus planos para o cinema, o seu carisma com os alunos, o tempo em que contestava os seus conflitos. Relembro o Jorge da “alma irrequieta” que incendiava multidões, o Jorge que nos “roubava” um tempo tão bem ganho para falar de tudo, o Jorge que despertou mentes e interesses na área de Projecto, “ganhou” a Ciência Política como a disciplina de opção mais procurada do 12.º ano, passou cinema à comunidade todas as segundas feiras; relembro o Jorge nas lutas políticas, ideológicas, o Jorge intempestivo, o Jorge dos valores democráticos, da defesa da escola pública, do combate aos exames e do acesso ao ensino superior; relembro o Jorge em tudo e mais alguma coisa; relembro o Jorge que tão bem sabia defender aquilo em que acreditava e que, nos intervalos ia fumar um cigarro; relembro o Jorge com os seus auscultadores e o seu discman, que vão perdurar como um património da escola. O Jorge, uma inspiração, um alento, uma alma irrequieta, mas sempre conscienciosa, reflexiva, crítica, combativa e … um cinéfilo sem fim…
E agora como vai ser? A escola sem o Saraiva. Nesta despedida inesperada, podemos pensar em qual vai ser o nosso próximo filme…. cairão sempre algumas lágrimas por não estares junto de nós, mas é que a roda furiosa da vida não nos permite ter-te sempre ao nosso lado. A gente não faz amigos, reconhece-os.
Aqui, agora! Jorge, estaremos sempre contigo!
João Jaime Pires
Director da Escola Secundária de Camões
Membro do Conselho Geral do ABC


SESSÃO DE HOMENAGEM DOS ALUNOS DO JORGE SARAIVA
Prevê-se uma sessão de homenagem envolvendo alunos e ex-alunos do Jorge, a realizar na última semana de outubro.
A ideia é dar aos alunos do Jorge “carta branca” para poderem falar, usar música e passar um pequeno/médio filme, eventualmente de algum aluno que seguiu Cinema. Isto é, trata-se de uma homenagem organizadas pelos discípulos do Jorge.



FILMES DA VIDA DO JORGE SARAIVA
CALENDÁRIO DAS SESSÕES

26 Set 2022
PALOMBELLA ROSSA
Real. e Arg. Nanni Moretti | Fot. Giuseppe Land | Mús. Nicola Piovani | Déc. Giancarlo Basilli, Leonardo Scarpa | Mont. Marco Garrone. | Int. Nanni Moretti, Silvio Orlando, Mariella Valentini, Alfonso Santagata, Claudio Morganti, Asia Argento, Mario Pantane, Antonio Petrocelli, Remo Remotti, Fabio Traversa.| Prod. Nanni Moretti, Nella Banfi, Angelo Barbaglio, Cecilia Valmarana para Sacher Film -Titanus - RAI | Itália,1989 | Cor | 89 min.
[Prémio da Crítica, Festival de Veneza, 1989]

03 Out 2022
O MEU TIO DA AMÉRICA
Título original: Mon Oncle d'Amérique | Real. Alain Resnais | Arg. Henri Laborit, Jean Gruault | Fot. Sacha Vierny | Mús. Arié Dzierlatka | Dec. Jacques Saulnier | Mont. Albert Jurgenson.| Int. Gérard Depardieu, Nicole Garcia, Roger Pierre, Nelly Borgeaud, Jean Gruault, Pierre Arditi, Gérard Darrieu, Philippe Laudenbach, Marie Dubois, Henri Laborit | Prod. Philippe Dussart | França. 1980 | Cor | 125 min.
[Prémio Especial do Júri, Festival de Cannes, 1980]

10 Out 2022
O ÚLTIMO MERGULHO
Real. e Arg. João César Monteiro | Texto: Hyperiore, de Friedrich Hölderlin, lido por Fabienne Babe e Luís Miguel Cintra | Fot. Dominique Chapuss | Mús. Johann Sebastian Bach (Ária das Variações Goldberg, executada por Glenn Gold | Som: Gita Cerveira | Mont. Stéphanie Mahet | Dec e Fig. Isabel Branco. | Int. Fabienne Babe, Canto e Castro, Francesca Prandi, Rita Blanco, Dinis Neto Jorge, Luís Miguel Cintra, Teresa Roby | Prod. Paulo Branco / Madragoa Filmes – RTP – La Sept | Dir. Prod. Alexandre Barradas | Portugal, 1992 | Cor | 85 min
Filme de TV, 4.º episódio da série Os Quatro Elementos - A Água.
[Prémios para o Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Actriz, Melhor Actor e Prémio Especial do Júri, Festival de Veneza, 1992]

24 Out 2022
MUDAR DE VIDA - JOSÉ MÁRIO BRANCO, VIDA E OBRA
Real.e Arg. Nelson Guerreiro, Pedro Fidalgo | Fot. Katell Paillard, Miguel Alexandre, Nelson Guerreiro, Pedro Fidalgo, Ricardo Capucha, Rui Ribeiro, Salvador Palma | Mont. Patrícia Leal, Nelson Guerreiro, Pedro Fidalgo | Som: Alberto Garrido, Eliseu Maia, Fred Zed, Henrique Cão, Manuel Monteiro, Pedro Falcão, Renaud Drovin, Rui Ribeiro | Misturas: João Gazua.| Prod. Nelson Guerreiro, Pedro Fidalgo | Prod. Deleg. Olívia Vasques | Portugal, 2013 | Cor | 115 min.
[Documentário, rodado durante 7 anos, a partir de Abril de 2005, sobre a vida e a obra de José Mário Branco, com depoimentos do biografado]

31 Out 2022
OUTRO PAÍS
Real. e Arg. Sérgio Tréfaut | Fot. João Ribeiro, Rui Poças, Jon Jost | Mont. José Nascimento, Pedro Duarte | Som: Joaquim Pinto, António Pedro Figueiredo | Misturas: Branko Neskov | Dir. prod. Maria Ribeiro da Fonseca | Prod. exec. Pedro Correia Martins | Portugal, 1998 | Cor | 70 min.
[Documentário de montagem com base em entrevistas a dezenas de cineastas, fotógrafos e jornalistas estrangeiros vindos ao nosso país para dar testemunho da Revolução do 25 de Abril e seus desenvolvimentos]

Local das sessões
AUDITÓRIO CAMÕES
Rua Almirante Barroso, à Praça José Fontana, n.º 25 A (Antigo edifício da Escola António Arroio)
Sessões às segundas-feiras, às 19h00
Entrada gratuita
FPCC - Federação Portuguesa de Cineclubes | 17 Outubro 2022